FRIDAY, 18 de janeiro de 2002 (HealthDayNews) — Um novo estudo sugere que a gastrite seria melhor tratada com antibióticos do que com drogas potentes redutoras de ácido, que os pesquisadores dizem que podem fazer mais mal do que bem em certos casos.
A conclusão do estudo se desvia do tratamento comum para a condição — reduzindo o ácido — e deixa outro especialista com o equivalente intelectual de um estômago perturbado.
“Quando você bloqueia completamente a produção de ácido, você encoraja o crescimento de bactérias, que por sua vez aumenta a inflamação do estômago e prepara o estágio para a gastrite crônica”, diz a autora do estudo, Dra. Juanita Merchant, professora associada de medicina interna e fisiologia do Sistema de Saúde da Universidade de Michigan.
Antibióticos, diz Merchant, “abordam o problema na fonte — a bactéria”.
Gastrite é uma inflamação do revestimento do estômago.
Merchant diz que antiácidos de venda livre como Tagamet, Pepcid AC, e Zantac não são tão prejudiciais porque permitem que alguma produção de ácido continue. Mas ela não gosta de antiácidos poderosos conhecidos como inibidores da bomba de prótons — medicamentos como Prilosec (omeprazol), Prevacid (lansoprazol), Protonix (pantoprazol), ou Aciphex (rabeprazol), que funcionam desligando toda a produção de ácido.
“Esses medicamentos não vão ajudar a gastrite, e podem piorar os problemas criando um ambiente que encoraja o crescimento de bactérias”, diz ela.
Outros médicos não são tão rápidos a descartar a sabedoria convencional.
O Dr. Ali Karakurum, gastroenterologista e professor assistente de medicina no Centro Médico da Universidade Nassau, em Nova York, acha os resultados “altamente questionáveis”.
As bactérias eliminadoras, diz ele, provaram ser úteis apenas nos pacientes com doença ulcerosa causada pela bactéria Helicobacter pylori. “Não há estudos mostrando que nenhum outro tipo de bactéria esteja ligado à gastrite, então tenho que questionar a premissa básica do estudo”, acrescenta Karakurum.
A teoria da gastrite mediada pela bactéria Merchant gira em torno de uma substância chamada gastrina, uma substância química secretada pelo revestimento do estômago em resposta à inflamação — incluindo a presença de bactérias. A gastrina, diz ela, desencadeia a produção do excesso de ácido estomacal.
Embora o excesso de ácido em si seja muitas vezes culpado por males estomacais, Merchant diz que seu estudo animal mostra que ele pode estar lá por uma razão. Ela afirma que as bactérias que colocam a gastrina em ação — não o excesso de ácido — são a verdadeira causa dos problemas estomacais.
Mais importante, ela acredita que, sem o tratamento destinado a reduzir as bactérias, poderíamos estar nos preparando para problemas estomacais muito mais graves, incluindo o câncer.
“Se você não tratar as bactérias, não vai se livrar do problema — pelo menos foi isso que nossos estudos mostraram”, diz Merchant.
Karakurum discorda. “A maioria dos casos de gastrite é auto-limitada”, diz ele. “Eles desaparecem por si mesmos, quer você encontre ou não alguma bactéria ou a trate”, diz ele.
Estudo do Merchant comparou os revestimentos estomacais de ratos normais com aqueles geneticamente alterados para não produzir gastrina e, portanto, incapazes de fazer ácido estomacal.
No início do estudo, os pesquisadores lavaram os revestimentos estomacais de todos os ratos, e testaram o líquido para a presença de bactérias. Eliminando aqueles ratos que não mostraram ter as bactérias causadoras de úlceras H. pylori — que não são afetadas pelo ácido — eles selecionaram aquelas que deram positivo para três outros tipos de bactérias: Lactobacillus, Enterobacter, e Staphylococcus.
O grupo de ratos infectados deficientes em gastrina foram tratados com antibióticos durante 20 dias. Os ratos infectados com níveis normais de gastrina foram tratados durante 60 dias com o inibidor da bomba de prótons omeprazol.
Ao final do estudo, os pesquisadores examinaram novamente os revestimentos estomacais dos camundongos.
Os ratos que receberam o antibiótico mostraram uma redução acentuada da inflamação e das bactérias, o estudo encontrou. Os ratos que tomaram o omeprazol bloqueador de ácido mostraram um aumento da inflamação e mais bactérias do que quando o estudo começou.
Outros, o tratamento subsequente do segundo grupo com antibióticos resultou numa redução semelhante da inflamação observada no primeiro grupo – apesar de os ratos terem continuado com o omeprazol.
Karakurum encontra uma falha importante dentro do desenho do estudo.
“A bactéria H. pylori não é encontrada no revestimento do estômago. Ela requer uma biópsia do tecido, onde ele se esconde”, diz ele. Não encontrar H. pylori no forro não é verificação de que não estava presente, diz Karakurum. E se estava, diz ele, então isso explicaria a melhora nos ratos que tomaram o antibiótico. Isso também explicaria porque os antiácidos não funcionaram.
O estudo foi publicado simultaneamente nos números de Janeiro das revistas Gastroenterologia e o American Journal of Physiology.
O que fazer
Para uma visão geral dos problemas estomacais comuns e tratamentos eficazes, visite o American College of Gastroenterology.
Para informações específicas sobre como lidar com a gastrite, visite o Manual da Merck.
Para saber mais sobre como funcionam os inibidores da bomba de prótons, clique aqui.