BARCELONA – Os indivíduos que consomem regularmente álcool em quantidades definidas pela Organização Mundial de Saúde como de “risco muito elevado” enfrentam uma carga de saúde assustadora e, no entanto, amplamente subvalorizada, Rainer Spanagel, MD, observada no congresso anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia.
Dr. Rainer Spanagel
Citou um estudo recente liderado por Jürgen Rehm, PhD, do Centre for Addiction and Mental Health em Toronto, no qual os investigadores estimaram a prevalência do que a OMS definiu como um “nível de consumo de muito alto risco” entre pessoas entre 15-65 anos de idade em 13 países da UE. Os pesquisadores passaram então a determinar o risco anual associado de doenças e lesões, bem como os efeitos na expectativa de vida.
“Os números são tão chocantes que você tem que levá-los a sério”, disse o Dr. Spanagel, presidente do departamento de psicofarmacologia do Instituto Central de Saúde Mental em Mannheim, Alemanha.
Até 2 décadas atrás, a OMS definiu o nível de muito alto risco de consumo de álcool como mais de 100 g/dia de etanol para homens e mais de 60 g/dia para mulheres. Isso se traduz num limiar de 7,1 e 4,3 bebidas padrão – uma cerveja de 12 onças, um copo de vinho de 5 onças ou uma porção de licor de 1,5 onça – numa base diária.
“Esta categorização da OMS dos níveis de risco de beber tem sido praticamente ignorada em ensaios clínicos e estudos epidemiológicos até 3 ou 4 anos atrás”, de acordo com o Dr. Spanagel.
O estudo do Dr. Rehm e seus colegas sugere que isso tem sido um erro grave. Ao usar dados do Sistema Global de Informação sobre Álcool e Saúde da OMS, bem como de estudos clínicos, os investigadores determinaram que a prevalência desse nível de consumo de álcool era inferior a 1% no total em 13 países europeus. Entretanto, as taxas variaram acentuadamente: acima de 4% na Irlanda e mais de 3,5% no Reino Unido, comparado com menos de 0,5% na Alemanha, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Hungria e Holanda. A República Checa chegou a cerca de 3%, enquanto Itália, Espanha, França e Áustria tiveram taxas superiores a 0,5% mas inferiores a 1%.
Os investigadores estimaram que o risco de doença ou lesão associada a este nível de consumo de álcool de alto risco era de 13,5% por ano. Com base em dados de nove países da UE, o Dr. Rehm e seus colegas descobriram que um nível muito alto de risco de consumo de álcool causou quase 54% de todos os casos de cirrose hepática nesses países, 41% de câncer esofágico e oral, e 44% de pancreatite.
A expectativa de vida na União Européia é de 80,6 anos. Os investigadores calcularam, com base em dados abrangentes da mortalidade nacional francesa, que o consumo de álcool de alto risco resultou em uma redução de 22 anos na expectativa de vida, em comparação com a população em geral. Em comparação, todos os cancros considerados em conjunto resultaram em 10 anos de vida perdidos.
Dr. Spanagel é editor chefe da revista Addiction Biology, na qual este estudo apareceu (Addict Biol. 2018 Jul;23:961-8).